domingo, 30 de outubro de 2011

MAR



    Vens-me falar ao coração...
Vem! Sempre ouço tua canção;
Vens desabafar tuas mágoas,
teus lamentos;
Vens deixar tuas lágrimas,
teus tormentos;
Vens segredar tuas saudades,
quão antigas, passadas, verdades.

Te as guardo,
te as escrevo.

Minhas mãos, são meio da tua escrita,
meu coração, guarda fiel à tua vista.

Deixas em minhas mãos, as húmidas palavras;
deixas em meu coração, as cansadas tristezas.

Sempre a meus pés se esvai
o fresco marejar que me dás;
Sempre, sempre ao meu olhar, vais
pela imensa luz que se põe
no declinado dia.
Quando contigo estou
e as tuas águas abraço,
         mar também sou




.NESTE MAR IMENSO que meu olhar avista,
pequeno ser sou, como grão de areia acariciado...
esta areia por mais macia que seja,
de ti afagada e beijada,
não te será mais querida
que meu ser te ouve e te fala.


Já não tenho mais coração que encha
tuas vozes que trazes nas tuas ondas...
mas eu, reclinado ao teu marejar,
ouço e guardo as quantas historias tidas, ó mar,
de vidas que por ti passaram,
vidas quantas que sofreram e amaram.


Que grande é o teu poder, ó solitário marejar:
és louco dominador ou terno afagador;
és caminho ao navegador que a outras terras quer chegar...
mas serás sempre para o que espera e deseja
às tuas águas a frescura sentir,
também carícia acolhedora como criança, seja.

            Valdemar Muge

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

PERGUNTO-TE



Tu poeta, como podes sentir no marejar do mar,
os desabafos e as carícias?

Como podes sentir as mensagens do vento,
da brisa e da aragem que passa?

Como podes sentir o canto das águas que correm,
do choro da chuva e a carícia da neve?

Como podes sentir a delícia do fresco arvoredo,
a poesia das flores e a vida da Natureza?
Como podes sentir o romantismo das Estrelas,
a força do Sol e o mistério do Universo?

Diríeis que pousas o coração em cada coisa!
Abraça-as em cada momento que as vês.
          
            Pudesse eu fazer o mesmo,
tamanha felicidade seria, amigo!
          
           Teus desejos se transformam dentro de ti,
nas realidades por ti construídas;
os anseios florescem aos teus olhos
            e esparsas à tua volta, os teus sentidos desejados.

Assim, és fabricante de sonhos
do que em ti passa,
sentes e dizes!
Tens as Estrelas que ilumina as tuas noites,
inebriando;
o Sol que abriga os teus dias reclinados
e a deleitada Terra, fonte inspiradora da vida...
no teu mundo criado, vivido....

Será esse o teu segredo
que guardas e sentes?
A flâmula que te acompanha
nesse teu ser que és e queres ser?

(Tens as saudades do que conseguiste ter,
só não tens aquela do que não conseguiste ser.)


       BEM SABES que o vento que passa,
não é mais do que aquilo que por ti abraça...
mas sabes que a suave aragem que te enlaça,
é o carpir do mar que te segreda;
a árvore que te rodeia,
o Sol que te aquece
ou as Estrelas que te ilumina,
sem ti, não podiam desabafar...

És mensageiro da Natureza que te abraça
que quantos não a sentem e alcança;
És voz do que por aquém fica
e eco a tantos que o sentir não chega;
És ser vivo que o vento leva e esvoaça
para todos ouvir e compreender.

Teus caminhos, são pétalas das flores deixadas
para cada alma que te ouve, querendo;
palavras florescidas e amadas,
por esta Terra que teu coração encerra!

(Vai, a tua voz, aqui a súmula deixou
e para mais além segue...
com outra canção que aqui não ficou!)


MUNDO ESTE que os sonhadores sentem,
que nele vivem e o entendem.

Foi teu coração que criaste o amor,
a tua felicidade e a dor.

Foram teus sentidos que deram cor
ao verde do mar
e ao azul do céu.

Foram tuas palavras que escreveram
a poesia da natureza,
toda ela beleza
que corre nesses ventos que a nós vieram.

Foram teus olhos que viram e deram
força ao sentir
do que por ti passa e enlaça.

São quantos sentidos que te vieram,
que latejam no teu viver
e teu coração espalha esse crer.

Sereis a semente do fruto do amor;
a luz da esperança e da serenidade;
as aguas refrescantes da angustiosa dor:
            o poeta sonhador da grandiosa bondade.

            
            ONDE ESTÃO AS VOZES
das alegrias espalhadas nos olhares abraçados?
Nos quentes sois
que as almas felizes cantavam
e nas iluminadas luas
que os corações embalados, ouvindo, adormeciam...

Onde estão?...

Onde estão as vozes
dos ventos que minha voz para longe levavam?
Das fontes que agora só lágrimas choram,
(são saudades que deslizam e que moram)
e deste mar que as nuvens sequiosas lhe beija
num namoro fugaz, mas que deseja...

Onde estão?...

Onde estão as vozes da felicidade?!
Porquê que só vejo flores tristes
e sangues nos charcos apodrecidos
do vício e da miséria impregnada?
Porquê que só vejo céus escuros
nos sem abrigos e nos mendigos padecidos!
Porquê?... Que só vejo as esperanças perdidas
dos desejosos duma vida renovada, querida...

Chorar, para quê?
                                                                                          
As lágrimas já não brotam
e os corações se cansaram;
A Natureza não se ouve, entristeceu...

Vós Poetas!
Construtores dos desejos nas terras iluminadas
e nos astros da concórdia, espalhados,
sejais os Arautos dos Tempos prometidos
e das felizes manhãs a desabrochar nos corações!
Então, clamem vossas vozes,                                          
dando voz à Natureza, porque ela ainda não morreu!

Juntos, sairemos dos desertos adormecidos
e dos charcos impregnados da incúria,
e vamos dar voz à Sobrevivência do amor!

Mataremos a sede a esta Terra ressequida
e as verdejantes realidades florescerão das esperanças!

As nuvens de cinzas então espalhadas,
se dissipem nos confins subterrâneos da destruição
e as Auroras renascidas,
tragam as vozes anunciadoras
da felicidade por todos desejada!


QUE VEDES, ó Madrugadas prometidas?
- Flores que desabrocham em céus azuis;
águas espelhadas das Ninfas cantadas;
pegadas nas brancas areias molhadas, quão amadas.

Que vejo eu, neste querer e ser?

Abraços que se desejam,
corações que ao Céu se erguem,
destinos felizes que a vida seguem.

 Promessas de amor, sempre queridas;
alegrias nos corações dos corpos cantados;
beleza irradiante, nascida aos olhos das almas solares.

Foram vós, ó poetas, que as sonharam!
Foram vós, que com as vozes, as deram!
Foram vós, com os corações nos ofereceram!

Eis os sonhadores de Sonhos!
Os construtores de alegrias!

Mas as Realidades vêm além, naquelas negras nuvens;
Estão naquela terra ressequida e abandonada;
Estão nas fábricas em ruína, decrépitas;
Está neste Mundo poluído e ensanguentado,
na Dor da miséria e no abandono humano.

(- Quantos vós vão sonhando,
            camuflando as realidades vividas!)


       DAS SINGELAS FLORES,
deixamos nos seres o pólen das carícias;
Nos corações que nos esperavam,
deixamos o fecundo amor florescido;
Nas almas que encontramos,
deixamos o espírito que transportamos.

As noites eram aconchego, abrigo
das ansiosas vozes desejadas...
Preludio de irmanada amizade,
semente cultivada para quanta felicidade!
Nos novos dias iluminados, eis o fruto colhido
nos olhares e abraços encontrados
de quantos desejos nocturnais.

Foi nuvem que correu,
nela seguimos,
vivemos,
amamos...
Foi nuvem que pousava,
fecundava
em cada coração,
desejosa união...

Foi água nascida que correu de quantos sonhos
iluminados por quantas Estrelas dessas noites...
Foi colheita de quantas flores de amizade
que floresceram, depois durante os dias...

Agora, percorremos a solidão
e o que vemos no chão,
são pegadas de saudade de quanta amizade!

(... só falta dar de beber à raiz,
            para que a Arvore renasça e floresça feliz!)



                                                    Valdemar Muge


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

AOS POETAS



Sereis os incompreendidos?
Os idealizadores de sonhos,
sequestrados pelos ventos inconformados;
os pulverizadores do amor
nas estações do tempo criado;
o eco que passa acordado
na aragem que abraça os corpos de Sempre?!

Sereis esses?

Sereis as imagens moldadas
que os corações sentiram e foram dadas?

Tu, poeta construtor que me ouves,
que fizeste,  foste esse autor?

- Da voz do apaziguamento em cada momento,
voz da paz e da justiça renascida
nos montes vivos da Natureza;
voz da concórdia encontrada nos corações
irmanados de mãos dadas em cada olhar;
voz da mão carinhosa ao infeliz
e na dor que na vida trespassa
em cada momento que passa.

Sereis essa voz aclamada
e construtores desses alicerces que a Natureza te propôs?

Tu, poeta sonhador que aí estás,
que fizeste de ti?!

            - Foste eco na Natureza
de quanto a admiraste e a respeitaste;
correste nas águas límpidas
que sempre desejavas rejuvenescidas na Terra;
voaste no vento dos dias transparentes
sem poluição para todas as gentes;
no Sol da felicidade para a criança
e no lar da fonte do amor construído;
nas esperanças das manhãs desejadas
duma vida que todos possam viver felizes.

Foste obreiro desse empreendimento?
- Com certeza que o tentaste construir,
tu poeta, com teus sonhos, talvez!

Eu, nas minhas realidades, não o consigo...

Continuo a ver a miséria e a angustia
no sofrimento humano, espalhadas na rua;
continuo a ver a guerra e a jactância
implantadas nos povos disfarçados
com a máscara da bondade e da justiça;
continuo a ver uma Terra no caminho
da destruição feita pelos homens de
ouvidos surdos e olhos vendados!

Eu não sou o homem
que acredita nos teus sonhos!

Os meus, são as realidades do dia-a-dia
da luta constante pela sobrevivência;
no encontro com a dor em cada canto da rua;
no amargo pão, cultivado pelo honesto trabalhador,
que não chega (quantas vezes), ao humilde lar;
na vileza disfarçada no manto púrpura da vaidade!
                                                                                                                                                           
Estas são as realidades que vejo!

Poeta sonhador,
vê também as que à tua volta existe!
Sejamos então os idealizadores da contestação inconformada;
Sejamos os apaziguadores no alvorecer do novo dia,
os carinhosos das lágrimas sofredoras
dos corações padecentes;
Sejamos o eco da paz e da justiça em cada ser humano,
os transportadores da luz da alegria
às almas tristes e desanimadas!

Então sim, sejamos todos poetas nas realidades rejuvenescidas,
do novo Sol para todos, irmãmente!
Sejamos mensagens que a todos quer abraçar
            como os corações a todos deve amar!


                                                                                                  Valdemar Muge

PARASTE




PARASTE NO MEIO da caminhada e te viste
cansado com o peso que a tua sombra te acusa:
dos teus frios dons espalhados aos corações
e nas mãos que se abriam ao teu ser. Reflectiste...

Essa fluída sombra sempre te seguiu e recordava
que era preciso o calor do amor, que se dava;
que era preciso renascer a esperança prometida
de quem espera uma nova aurora querida.

O  meio da tua caminhada,
será pouso reflectido à tua vida dada...
Será consolo à tua interrogada alma
na dor que te perturba e estrangula,
para um novo ser de serena paz e calma.

Poeta, ouviste a voz da tua sombra:
Foi mensagem como a doce pomba...
Sempre ouvirás a razão verdadeira,
seja essa sempre em ti, a justa bandeira.

Agora, levas contigo o perfume da natureza.
Que mais queres? Se tens tamanha beleza!
Levas a alegria da Terra que te abraça
no novo percurso renovado que te enlaça.

Serás branca nuvem pousada nos montes da vida;
vento que leva a bondade aos corações;
voz para todos cantada
às vidas que a vida sempre amam.

(Seremos renovadores da vida
para que ela nos seja mais querida,
seremos mensageiros duma querida vida!)


        __                                              Valdemar Muge 

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

PALAVRAS

PALAVRAS
Deixo um regaço de palavras
a todos que as queiram receber e recordar,
palavras estas que um ser amigo pode dar.

Com estas mãos, escrevi as sílabas sentidas,
como prova de carinho e amizade,
na sempre e tão quanta sinceridade.
São palavras de quem sempre quis a paz e a concórdia
num mundo tão conturbado;
a esperança, nos corações desiludidos e perdidos;
a felicidade encontrada para os infelizes
e o reconforto na dor quando vinda.

Eis as palavras escritas à minha terra
que sempre desejou que existisse o amor;
à sua gente, que dia-a-dia encontramos, falamos e estimamos;
e à beleza aqui espalhada, em cada canto, em cada ser.
Ficam as palavras que correm no fluir das águas dos rios
e se repousam nas salgadas águas dos seus pescadores.

Eis as palavras envoltas na aragem vinda do mar
que nos acaricia;
do mar que nos embala e nos faz sonhar
no atapetado chão das brancas areias,
e das gaivotas passando sobranceiras.

Deixo todas estas palavras escritas nas brancas folhas
que às vossas mãos chegam,
e ao olhar que vos acarinha suavemente,
recordando de quem sempre em vós pensou...
deste ser que da sua terra nunca se esqueceu
            e a alma vareira desta gente, no coração viveu.

          Valdemar Muge