sábado, 28 de julho de 2012

CARTA À JUVENTUDE


Amiga:
Tanto tempo vai que não falamos
e como bons amigos fomos...
Saudades ficaram dos nossos bons tempos,
quando andamos nas ideias e inventos;
nas esperanças das nossas aspirações;
nas alegrias, fantasias e ilusões...
Agora, que tão longe estás, bem distante,
impossível nos encontrarmos mais...
resta-nos a recordação com a saudade querida,
da fase maravilhosa tida,
agora nostálgica da nossa vida.
Ó minha boa amiga juventude,
bem sei, que tiveste que seguir teus caminhos,
imigraste para bem longe, teu destino,
e eu, sozinho, aqui fico, não sei para onde vou...
sei que te amei, que te perdi, agora sou o que sou!
Tu que tanto gostavas de carinhos,
não tiveste talvez tantos quantos querias
e não tanto folgaste e expandiste teu ser,
mas enfim... tempos que cada um tinha
e seu espírito dava e sentia.
Hoje, tu e eu, temos a saudosa recordação
na amena tarde da tranquilidade.
Tu, seguiste teu destino e eu, aqui,
resta-me reclinar à sombra da madura arvore da vida
e recordar essa vida que nos foi querida!


Valdemar Muge

sexta-feira, 20 de julho de 2012

RUA DAS FONTES



  
Ó velhas fontes, onde estais?
Tanto que chorastes, lágrimas que o vosso riacho as levou e hoje,         já gotas não derramais.
Ó fontes perdidas, já não as encontro, já não com elas hoje choro...
Eram dez bicas (*) que a fresca água os corações apaixonados refrescava e a sede sequiosa do sempre crescer à vida, matava.
Eram dez fontes, que suas águas, aos olhos, o espelho reflectia e espelhava, deslizando por entre os verdejantes campos de milho que à sua volta crescia, ao encontro das águas da fonte enamorada e não menos cantada no romântico Casal.
Eram dez, que em tempos idos, saudosas, suas águas se juntavam às donzelas apaixonadas que ficavam a chorar pelos seus queridos que muitos foram e não mais voltavam.
Ó fontes desta Rua, agora, já não mais choram, choro eu por vós, até que minhas lágrimas sequem, nesta fraternal saudade hoje e sempre sentida.
Choro eu, para que minha saudade vá no deslizar do vosso riacho que em tempos idos  te abraçava e em terno carinho te cantava.
Ó Rua das Fontes, hoje, fontes essas já não as tens, são saudades que ficam dum tempo que o tempo levou!... Agora, tens o Herculano para tuas mágoas também prosar.
Rua das Fontes, nesta terra sempre o serás! Com elas nasceste, pois teu nome assim começou e sempre recordado será.
 Dentro de todos, então jovens, hoje mais vividos, seus amores e venturas, guardados estão nos corações de cada um ser, desta rua de Ovar.


1(*)
Correio11s: 1; Pinho: 2; Júlia: 1; Vidal: 1; Pública: 1; Samaritana: 1; Lamarão: 1; Regueira: 1; Pública (Mota): 1.

Valdemar Muge

quarta-feira, 11 de julho de 2012

PESCADOR DA MINHA TERRA



Velho pescador de tez enrugada, 
olhas teu mar amado;
Meditas pelo que passaste...
Teu olhar, se perde pelo horizonte
do mar onde trabalhaste.
Foi nessa imensa e branca areia
que em criança brincavas e corrias
até à cariciável onda que te esperava
e te despertava para a tua luta na vida.
O mar te chamou!
E assim foste: “valente, audaz e digno lutador!”
Recordas as alegrias que passaste
e o fruto do trabalho que realizaste.
Quantas vezes em lutas desesperadas,
nas ondas furiosas, encapeladas,
lutaste, e sempre quiseste vencer,
fugindo à morte, sem temer!
Agora… olhas o teu mar, são recordações.
Na tua voz, guardas o roncar das ondas encapeladas
e no teu coração, a suave magia do deslizar
à praia da mansa onda, afagando.
Hoje, velho lobo do mar,
deixas deslizar tuas lágrimas de saudade
que se mistura nesta maresia tão tua;
Recordas como ficou a polida rua,
que também a percorreste com o peixe
ao som do teu pregão.
Saudoso pescador:
Vencedor da proa desfraldada
e das ondas encapeladas;
lutador pela vida, digno como outros o são;
humilde homem, mas de grande alma e coração!
Hoje, orgulhoso de ser o que na sua alma encerra:
Digno pescador da minha terra,
desde criança e até à morte, foi sua herança:
O brioso orgulho de ser da sua terra
e ter o maternal afago, o seu mar,
esse que beija docemente a sua OVAR!

           Valdemar Muge

ESTRADA PRÓ-MAR



Do alto da tua estrada, seu início, me indicavas meu destino.
Daqui, na então tua fresca sombra, me levavas até ao mar. Teu arvoredo me abraçava, levando-me ao branco areal que se estende debruçado nas tuas salgadas águas.
Daqui, recebias os teus pescadores vindos dos Bairros que te afluíam:
Vinham do Lamarão, dispostos a enfrentar a força do seu mar;
 Da Arruela, origem de tantos valentes destas águas vareiras.
 Da Ribeira, da Marinha, dos Campos e de tantos outros lugares, vinham os lavradores com seus bois, para as redes puxar na praia, na faina do pescado, ansiosos de boa pesca.  
Eras tu, estrada para o mar, que abraçavas toda esta gente que ainda antes do alvorecer, caminhava ao encontro do mar.
Do teu alto, inicio da estrada e percurso destes valorosos, caminhavam até que seu mar os avistasse e suas vozes com o habitual entusiasmo, se ouviam: “Pró-mar! Pró-mar!”
Serias então o tronco resinoso que em ti percorriam, daqueles que te afluíam, das gentes dos Bairros que te circundavam, o diário encontro para aquela dura vida, dum povo que nasceu e cresceu à beira-mar, que na suas roucas vozes ecoava o som do bramar das suas águas e a fragrância da maresia marinha que na tua estrada sempre entoavam: “Pró-mar! Pró-mar!”
Hoje, já assim não acontece. O eco dos teus pescadores já não se ouve,
apenas viaturas apressadas, quantas vezes sem se lembrarem daquele mar lá em frente.                   A fresca sombra por onde a aragem do teu mar deslizava, já longe vai... mas ficou o sabor do teu salgado mar, que pela estrada te vem.
Hoje, és mais moderna e turística, obra que os homens te fizeram.
Já não és a então Estrada Pró-Mar, porque aqueles que recebias, já de ti se despediram... e, no teu mar, poucos o abraçam e o enfrentam na lida da pesca.
Já não és a estrada dos velhos pescadores desta terra, fica com a saudade daquilo que foste, que eu fico com a recordação dentro do meu coração.
Enfim, hoje és irmã adoptiva, que te deram, o nome da terra para onde teus filhos foram: Régua, amiga.


Valdemar Muge

VARINA DA MINHA RUA



Quando passas por mim na rua,
graciosidade que foste e ainda como é tua...
és do mar, varina amada, varina cantada,
airosidade que espalhavas na rua calcetada.

Recordas tuas venturas, teus pregões,
quantos o eram, do mar à terra se ouviam.
Tua voz, conhecida de todos era e ouvir queriam,
varina do mar, varina da terra e das canções.

Hoje, tantas saudades guardas:
Uma vida, que a vida te deu quanta
ditosa felicidade e canseiras tantas,
e grata é ao Deus, seu olhar eleva.

Mundo o dela em que hoje vive...
como feliz é, nele assim pensar;
triste é, se meditar em tudo que vê e existe...
feliz dela, que só recorda o que quer invocar.

Como tu, tantas que com saudades existem,
varinas foram e são recordadas;
foram e sempre serão amadas,
nesta terra onde eu e elas vivem.

… Quando hoje aqui, estas palavras vos leio,
     esta querida Varina da minha rua,
     é-nos uma recordação minha e tua
     e saudade dela, ao meu coração veio.


Valdemar Muge

RUA DAS FIGUEIRAS



O mês de Agosto decai sonolento com o calor do verão.
A sombra apetecida, formada pelos noviços ramos das árvores, fazia aconchegar a Rosa, colhendo alguns dos apetitosos frutos da sua figueira, para convívio com suas duas filhas, porque sabia como deles, elas gostavam.
Poucas casas eram da rua da Rosa, que não tinham a sua figueira e todos primavam para ter a de melhor qualidade.
Será a razão por aquela rua, das mais antigas daquela povoação,      se chamar das Figueiras? Talvez.
Rua Direita das Figueiras, que nasce a norte de Ovar, abraça quantas e aconchega sua gente que a acarinha e lhe quer.
Repousa enfim, ajoelhada ao cruzeiro que a seus pés se ergue em fraternal afecto.
Era por ti que entravam quando vinham do norte, os primeiros povos para tuas terras cultivar;
Por ti, chegavam os titulares, senhores de terras que as iam recebendo por feitos ou benefícios prestados;
Por ti desciam e subiam os velhos pescadores, quando ao som da buzina, do alto do calhau, a ouviam… para pró-mar os chamavam para sua faina em dia de trabalho.
Tuas casas de portas e janelas de talhada cantaria, perduram, guarnecidas com teus tão característicos azulejos e como ainda sobrevivem…
Tinhas também a saudosa capelinha de São Lourenço, onde a nossa Rosa ia com suas filhas visitar a imagem de Santa Luzia, pois perto lhes ficava, em saudosa romagem por que seu marido e filhos, bem longe das águas deste mar que esta terra afaga, lá trabalhavam.
Daqui também começou a crescer este povo da beira-mar, gente que o mar ia abraçar na dura luta de trabalho.
Daqui também começou a nascer as lindas raparigas e rapazes que com a sua alegria e graciosidade, aspergindo por outras terras o encanto que daqui levavam, com o pregão da Varina, cantavam.
Foram vós ó figueiras, árvores de frutos apetecidos, que viram e deram o seu nome à então saudosa Rua das Figueiras, mas hoje, frutos desses já não os tens, apenas as flores que as Rosas de então, em tempos brotaram, hoje se vão desabrochando na actual Rua Dr. José Falcão, flores que desta terra sempre serão.


Valdemar Muge