quarta-feira, 19 de março de 2014

SAÚDADE


Vivo embalado no pensamento da saudade,
no Outono das estações,
das recordações passadas,
quanto vividas, quanto sentidas e amadas.

Navego na brisa do mar onde cresci,
das águas que à praia me murmuravam, onde vivi;
na saudade das quentes tardes
e do pôr do sol que as águas adormecia;
das frescas noites que aquele mar embalava
numa carícia que a maresia dava!
Que saudade,
quanto se amava!

Vivo no pensamento da saudade
do crepitar alegre do meu povo
que a beleza da mocidade dessa gente
sabe dar e nossos corações recebe e sente.
Da azáfama da labuta pela vida;
da esperança não perdida, sempre renascida.

Meu pensamento percorre as ruas polidas pelo trabalho
e dos sorrisos gentis da cordialidade e simpatia;
Dos campos trabalhados e ceifados;
Dos canteiros e janelas floridas ao sol primaveril
que abraçam e coloriam a natureza da minha terra.
Mas hoje, em meu coração chove
a saudade do tempo que passa
e a nostalgia nele enlaça.

Vivo nas horas sentidas da saudade,
nas badaladas que o relógio adormece,
que o tempo esfria e a vida estremece...
já não são quentes as noites que as estrelas espreitavam
as serenatas que se entoavam às janelas,
e aquele amor que quanto se ansiava, o sorriso dava.
As desfolhadas que os abraços se dava
entre corações em festa e lábios com sorrisos.
Saudades tantas, dessas noites quentes!
Agora, as estrelas embaciadas e lentas,
já não correm como tanto se via...
como na mocidade tudo corria, se vivia!...
Nas noites frias,
a saudade acontece
e o coração empobrece.

No vento da vida de então, vivi, sonhei…
nele, meu ser correu e os sonhos viveram.
Agora, o tempo é sereno, ameno,
e no aconchego da quietude, mora esta saudade.
Esta saudade que cada vez mais cresce,
que cada vez ao coração mais pertence,
que cada vez
mais à minha alma vence.

 Valdemar Muge