quinta-feira, 22 de novembro de 2012

POEMA FRATERNAL


Recordações, fragmentos da vida passada,
lembranças tantas, do quanto vivemos.

Quantas lembranças, objectos arrecadados moram:
recordações queridas, que no peito ainda afloram.
Eis aquelas fotografias, esquecidas algumas,
recordam momentos da sua serena juventude,
de encanto primaveril.
Nelas, está a imagem da esperança do amor
de mulher, e de ser mãe.
Exalam o ânimo duma nova família;
a vontade de lutar para a vida!

Mas a Luz das recordações,
traz à memória
quanta triste ilusão
que ocorreu na estrada peregrina:
Todos os desejos acabam
e tudo lá ficou...
destino cruel duma vida.

Valdemar Muge

sábado, 10 de novembro de 2012

ARRUELA



Arruela, é um lugar de ramificadas ruas, (em tempos estreitas,)    que se formavam em redor de um largo, onde em comunidade viviam as suas vidas.
É estar num dos lugares do alvorecer do povo Vareiro, que despontava para
as suas labutas.
Seio do nascimento dos corajosos pescadores e das airosas varinas, não menos graciosas que de outros lugares.
Os lavradores desta terra de verdejantes campos de cereal, marcaram também o destaque com a sua vivência.
Lugar de bons artífices do barro e da madeira, nas suas artesanais construções, quanto de bem apreciadas.
Lugar de quantos fornos do quente pão, do cereal que desta terra nascia e dele era saboreado. Das doces broas (de Pão de Ló), que seu cheiro tão desejoso, irradiava por todo o bairro e o calor dos seus fornos aquecia toda a casa, aconchegando desde o mais velho e ao de tenra idade…
Foi sim, berço de trabalho, de cultura e desporto, que esses corajosos vareiros que daqui se espalharam por toda esta terra e por outras bem distantes, enaltecendo o nome de onde nasceram.
Foi, com certeza, no aconchego deste lugar, que o fresco aroma dos seus pinheiros e o exalar perfumado das suas flores, nascia a beleza e a graciosidade feminina que por todos era conhecida e lembrada.
Hoje, ouviremos o chilrear dos pardais, ao recolher do dia, que nos faz lembrar as melodias então cantadas pela mocidade daquele lugar e no silêncio nocturnal eram ouvidas nas serenatas do apaixonado àquela jovem casadoira que estaria por dentro da quadriculada janela.
Lembremos com saudade os encantos que um lugar teve, recordando as vidas que por lá passaram e ficaremos agora com outras não menos queridas, desfrutando a felicidade, seja de qual o lugar, têm direito a viver.

Valdemar Muge 

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

MENINA DO SEMPRE PRESENTE



Menina das espelhadas águas ribeirinhas,
(como também o são quanto minhas)...
do tão branco sal e das espigas douradas:
nasceste nos dias das lágrimas sufocadas,
nos da dura luta pela vida
e do amargo pão de cada dia.

Menina, teus livros são foicinha afiada;
Teus mimos, trabalho que nos braços encerra;
Tua vida, duros sulcos que ficam na terra lavrada:
recordações estas te ficaram desta tua terra.

Pequena pomba que do ninho saíste,
para onde não sei, no vento seguiste.

Tão jovem, as agrestes calçadas corrias,
nova gente, novos caminhos percorrias,
menina triste, como tão cedo as viste!…
Pois a mais no teu lar te quiseram dizer,
(sempre uma filha na família se deve criar,
maravilhoso fruto da vida, esse, se deve amar),
mas parece que isso não quiseram ver!

Menina minha, das terras ribeirinhas,
tuas águas, então, mais salgadas ficaram:
quantas lágrimas deixaste que as tinhas,
um tão jovem coração levas em latejo dorido,
e apenas só um abraço de saudade te deram!

Quantos sonhos, voando, que lá ficaram,
e apenas recordações fraternas contigo vão…
Estrela tua querida que te acompanha,
amiga que te guia e sempre seja boa chama.

Obrigada aos outros servir,
(assim foi a instrução da tua vida),
mas quantas vezes para teu brio não morrer
e a alma, a coragem vencer,
avante tua verdade propagar,
deixavas flutuar tua razão e ao lar voltavas.

A pomba o ninho não esquece,
será sempre seu refúgio maternal.
Ó vida, quanto tens de bem e mal,
mas na alma,
a chama daqueles que seus são,
não arrefece!

Sonhos que no orvalho da manhã se dissipam:                      
tuas brancas águas, como já lá não estavam…
pois quando foste, elas também não ficaram!
Hoje, são escuras, como escuro ficara teu coração,
da saudade daquilo que também era teu... assim, não!
Era a voz do pássaro que à noite chegava
ao ninho dos filhos, a autoridade impor,
fazia ecoar o destino, novo caminho, nova dor,
àquela que é sua e agora no seio albergava,
até quando? Até quando…

Menina das espigas douradas,
com a sacola mais vazia partes,
mais uma lágrima na tua terra deixas
sem lamento ou direito a qualquer queixa.
Assim cresceste, dura vida,
vida que te deram aqueles teus.
Tua mocidade foi salpicada de lágrimas
e quantos desabafos e suplicas vãs.

No coração, sempre fica uma gota de orvalho carinhoso
e uma réstia de chama que dentro de nós propaga.
Quanto valor tem o ser humano que pouco recebe,
mas esse, a alma enobrece
quando dá àquele quanto pode,
que pouco fez, mas que precisa e padece.

Eis a menina do triste passado,
mas de querido sempre presente,
de sonhos e carinhos como tantas outras,
                  que a vida lapidou de espinhos agrestes.
Hoje, és aquilo que não foste...
e foste aquilo que não querias ser.
                                                                                             
 Valdemar Muge

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

RESIGNAÇÃO



                                                                       Dedicado a B.            
        -Onde estou? Onde estou?!
Ó luz que me falta,
ó escura vida que se levanta.

Triste existência que te envolve
no coração, na alma, se expande e consome...
Hoje, recordações, na tua vida se aflora
e no teu jardim, guardas as belas flores.
Ó mocidade de sonhos e amores,
alegrias e desilusões.
Branca flor que és,
sempre a serás e dentro de ti sempre a terás.
Hoje, outras já não vês,
mas daquelas que guardas, o suave aroma
transmitirás sempre aos outros corações!
Elas sejam a esperança, o amor, a paz
e flor sempre serás!
Tenhas a Luz na caminhada ainda a percorrer
na estrada da tua vida enquanto viver;
o teu amor que ainda possas difundir
aos que estão à tua volta
e a serena paz para o teu espírito,
para suportares a tua cruz.

“Onde estou!”

Esse teu pranto que te envolve,
tenha a resposta dos corações
a ti irmanados na amizade, na afeição
e no carinho que te dedicam.
                                                                  2008
Valdemar Muge

terça-feira, 2 de outubro de 2012

LAVRADEIRAS



Lavradeiras que desta terra me escutais:
O suor que vos cai, é símbolo da vida que levais
da  dura  terra  onde viveis,  mas quanto a amais!
Tu, ó jovem alegre, tantas esperanças anseias,
cantas,  ri,  como  a  vida  te  sorri...
é mocidade  que  se  confunde  com  a  natureza,
quadro  desta  terra, de quanta  beleza!
Além,  te  vejo  mulher  cansada,
a  não  menos  querida  lavradeira:
a  idosa,  curvada, são marcas  que  a  vida  te  deu
da  dura  labuta,  desígnio  teu...
(não quer deixar  abandonada  aquela terra  que  ama,
terra que dela se honra, briosa, que sempre a si clama!)

Foi  nesta  terra  que  tua  vida  passaste,
nela enfim,  tuas  rugas  apanhaste
e  teus  brancos  cabelos  te  envolveram;
é  essa  terra  que  sempre  te  abraçará,
e o aroma do amargo suor, sempre te envolverá!
São  essas  espigas,  fruto  do  teu  labor,
são o  fruto da tua terra, do  teu  amor.
Fatigada  vais, 
destes  campos  que são  teus;
neles, cansaste o  teu  coração,
quantas vezes, sozinha, com  tua oração!
Pensativa, 
teu  destino  segues  e  recordas,
quanta  juventude  que  à  tua  volta  tinhas,
hoje,  quase  só,  saudosa,  és  recordada
como  a  lavradeira  desta  terra,  já  curvada,
mas  sempre uma  mulher  por todos  amada!

Valdemar Muge

sábado, 22 de setembro de 2012

JANELA DE RECORDAÇÕES



Por dentro  daqueles  quadriculados  vidros,
da  velha  janela  com  as  portas  de  crivos,
- da noiva, já de olhos cansados, - as  belas  rendas 
saíam  de  suas  mãos,  com quantos  suspiros.


Lá dentro  daquela  saudosa  janela,
quanta  nostalgia  e  lamentos,  enfim...
daquele  amor  que  nunca  terá  fim,
- ansiosa  felicidade daquela donzela.-


E vós, que da  janela também  aguardavas:
o  marido  ausente,  distante,  que  amavas;
a  mãe  dilacerada,  o  filho  que  combatia!


E aquela triste viúva,  com  a  dura  saudade,
orava  pelo querido seu, - dura  fatalidade! -
Sois janelas de recordações, vidas que possuías.  


Valdemar Muge


sábado, 4 de agosto de 2012

CARTA AO AMOR


Querido amor – nesta aurora
que pela minha janela invade,
faz-me recordar-te,
a luz que à volta espalhas
no conchego das carícias queridas.
Escrevo-te não por pensar que estejas longe,
porque sei que sempre estás perto de mim;
não para saber notícias tuas,
porque tu amor, não andas sem mim!
Encontrei-te, e és a aurora que sempre nasce;
a continua vida que abraçamos, neste enlace;
a esperança nos corações que se querem;
o carinho espargido à volta dos nossos seres;
o afecto que se propaga, enquanto viveres!
Não tomes esta, por carta,
mas por mensageira do amor!
Esse sim, está aqui, ali,
em nós e em toda a parte que percorrermos
e onde felizes o espalharemos!
Serás sempre, amor, a primavera que renasce
no jardim da essência que floresce!
Sempre existirá o amor onde quisermos,
desde que os corações queiram
nesta vida que vivemos!


Valdemar Muge

sábado, 28 de julho de 2012

CARTA À JUVENTUDE


Amiga:
Tanto tempo vai que não falamos
e como bons amigos fomos...
Saudades ficaram dos nossos bons tempos,
quando andamos nas ideias e inventos;
nas esperanças das nossas aspirações;
nas alegrias, fantasias e ilusões...
Agora, que tão longe estás, bem distante,
impossível nos encontrarmos mais...
resta-nos a recordação com a saudade querida,
da fase maravilhosa tida,
agora nostálgica da nossa vida.
Ó minha boa amiga juventude,
bem sei, que tiveste que seguir teus caminhos,
imigraste para bem longe, teu destino,
e eu, sozinho, aqui fico, não sei para onde vou...
sei que te amei, que te perdi, agora sou o que sou!
Tu que tanto gostavas de carinhos,
não tiveste talvez tantos quantos querias
e não tanto folgaste e expandiste teu ser,
mas enfim... tempos que cada um tinha
e seu espírito dava e sentia.
Hoje, tu e eu, temos a saudosa recordação
na amena tarde da tranquilidade.
Tu, seguiste teu destino e eu, aqui,
resta-me reclinar à sombra da madura arvore da vida
e recordar essa vida que nos foi querida!


Valdemar Muge

sexta-feira, 20 de julho de 2012

RUA DAS FONTES



  
Ó velhas fontes, onde estais?
Tanto que chorastes, lágrimas que o vosso riacho as levou e hoje,         já gotas não derramais.
Ó fontes perdidas, já não as encontro, já não com elas hoje choro...
Eram dez bicas (*) que a fresca água os corações apaixonados refrescava e a sede sequiosa do sempre crescer à vida, matava.
Eram dez fontes, que suas águas, aos olhos, o espelho reflectia e espelhava, deslizando por entre os verdejantes campos de milho que à sua volta crescia, ao encontro das águas da fonte enamorada e não menos cantada no romântico Casal.
Eram dez, que em tempos idos, saudosas, suas águas se juntavam às donzelas apaixonadas que ficavam a chorar pelos seus queridos que muitos foram e não mais voltavam.
Ó fontes desta Rua, agora, já não mais choram, choro eu por vós, até que minhas lágrimas sequem, nesta fraternal saudade hoje e sempre sentida.
Choro eu, para que minha saudade vá no deslizar do vosso riacho que em tempos idos  te abraçava e em terno carinho te cantava.
Ó Rua das Fontes, hoje, fontes essas já não as tens, são saudades que ficam dum tempo que o tempo levou!... Agora, tens o Herculano para tuas mágoas também prosar.
Rua das Fontes, nesta terra sempre o serás! Com elas nasceste, pois teu nome assim começou e sempre recordado será.
 Dentro de todos, então jovens, hoje mais vividos, seus amores e venturas, guardados estão nos corações de cada um ser, desta rua de Ovar.


1(*)
Correio11s: 1; Pinho: 2; Júlia: 1; Vidal: 1; Pública: 1; Samaritana: 1; Lamarão: 1; Regueira: 1; Pública (Mota): 1.

Valdemar Muge

quarta-feira, 11 de julho de 2012

PESCADOR DA MINHA TERRA



Velho pescador de tez enrugada, 
olhas teu mar amado;
Meditas pelo que passaste...
Teu olhar, se perde pelo horizonte
do mar onde trabalhaste.
Foi nessa imensa e branca areia
que em criança brincavas e corrias
até à cariciável onda que te esperava
e te despertava para a tua luta na vida.
O mar te chamou!
E assim foste: “valente, audaz e digno lutador!”
Recordas as alegrias que passaste
e o fruto do trabalho que realizaste.
Quantas vezes em lutas desesperadas,
nas ondas furiosas, encapeladas,
lutaste, e sempre quiseste vencer,
fugindo à morte, sem temer!
Agora… olhas o teu mar, são recordações.
Na tua voz, guardas o roncar das ondas encapeladas
e no teu coração, a suave magia do deslizar
à praia da mansa onda, afagando.
Hoje, velho lobo do mar,
deixas deslizar tuas lágrimas de saudade
que se mistura nesta maresia tão tua;
Recordas como ficou a polida rua,
que também a percorreste com o peixe
ao som do teu pregão.
Saudoso pescador:
Vencedor da proa desfraldada
e das ondas encapeladas;
lutador pela vida, digno como outros o são;
humilde homem, mas de grande alma e coração!
Hoje, orgulhoso de ser o que na sua alma encerra:
Digno pescador da minha terra,
desde criança e até à morte, foi sua herança:
O brioso orgulho de ser da sua terra
e ter o maternal afago, o seu mar,
esse que beija docemente a sua OVAR!

           Valdemar Muge

ESTRADA PRÓ-MAR



Do alto da tua estrada, seu início, me indicavas meu destino.
Daqui, na então tua fresca sombra, me levavas até ao mar. Teu arvoredo me abraçava, levando-me ao branco areal que se estende debruçado nas tuas salgadas águas.
Daqui, recebias os teus pescadores vindos dos Bairros que te afluíam:
Vinham do Lamarão, dispostos a enfrentar a força do seu mar;
 Da Arruela, origem de tantos valentes destas águas vareiras.
 Da Ribeira, da Marinha, dos Campos e de tantos outros lugares, vinham os lavradores com seus bois, para as redes puxar na praia, na faina do pescado, ansiosos de boa pesca.  
Eras tu, estrada para o mar, que abraçavas toda esta gente que ainda antes do alvorecer, caminhava ao encontro do mar.
Do teu alto, inicio da estrada e percurso destes valorosos, caminhavam até que seu mar os avistasse e suas vozes com o habitual entusiasmo, se ouviam: “Pró-mar! Pró-mar!”
Serias então o tronco resinoso que em ti percorriam, daqueles que te afluíam, das gentes dos Bairros que te circundavam, o diário encontro para aquela dura vida, dum povo que nasceu e cresceu à beira-mar, que na suas roucas vozes ecoava o som do bramar das suas águas e a fragrância da maresia marinha que na tua estrada sempre entoavam: “Pró-mar! Pró-mar!”
Hoje, já assim não acontece. O eco dos teus pescadores já não se ouve,
apenas viaturas apressadas, quantas vezes sem se lembrarem daquele mar lá em frente.                   A fresca sombra por onde a aragem do teu mar deslizava, já longe vai... mas ficou o sabor do teu salgado mar, que pela estrada te vem.
Hoje, és mais moderna e turística, obra que os homens te fizeram.
Já não és a então Estrada Pró-Mar, porque aqueles que recebias, já de ti se despediram... e, no teu mar, poucos o abraçam e o enfrentam na lida da pesca.
Já não és a estrada dos velhos pescadores desta terra, fica com a saudade daquilo que foste, que eu fico com a recordação dentro do meu coração.
Enfim, hoje és irmã adoptiva, que te deram, o nome da terra para onde teus filhos foram: Régua, amiga.


Valdemar Muge

VARINA DA MINHA RUA



Quando passas por mim na rua,
graciosidade que foste e ainda como é tua...
és do mar, varina amada, varina cantada,
airosidade que espalhavas na rua calcetada.

Recordas tuas venturas, teus pregões,
quantos o eram, do mar à terra se ouviam.
Tua voz, conhecida de todos era e ouvir queriam,
varina do mar, varina da terra e das canções.

Hoje, tantas saudades guardas:
Uma vida, que a vida te deu quanta
ditosa felicidade e canseiras tantas,
e grata é ao Deus, seu olhar eleva.

Mundo o dela em que hoje vive...
como feliz é, nele assim pensar;
triste é, se meditar em tudo que vê e existe...
feliz dela, que só recorda o que quer invocar.

Como tu, tantas que com saudades existem,
varinas foram e são recordadas;
foram e sempre serão amadas,
nesta terra onde eu e elas vivem.

… Quando hoje aqui, estas palavras vos leio,
     esta querida Varina da minha rua,
     é-nos uma recordação minha e tua
     e saudade dela, ao meu coração veio.


Valdemar Muge

RUA DAS FIGUEIRAS



O mês de Agosto decai sonolento com o calor do verão.
A sombra apetecida, formada pelos noviços ramos das árvores, fazia aconchegar a Rosa, colhendo alguns dos apetitosos frutos da sua figueira, para convívio com suas duas filhas, porque sabia como deles, elas gostavam.
Poucas casas eram da rua da Rosa, que não tinham a sua figueira e todos primavam para ter a de melhor qualidade.
Será a razão por aquela rua, das mais antigas daquela povoação,      se chamar das Figueiras? Talvez.
Rua Direita das Figueiras, que nasce a norte de Ovar, abraça quantas e aconchega sua gente que a acarinha e lhe quer.
Repousa enfim, ajoelhada ao cruzeiro que a seus pés se ergue em fraternal afecto.
Era por ti que entravam quando vinham do norte, os primeiros povos para tuas terras cultivar;
Por ti, chegavam os titulares, senhores de terras que as iam recebendo por feitos ou benefícios prestados;
Por ti desciam e subiam os velhos pescadores, quando ao som da buzina, do alto do calhau, a ouviam… para pró-mar os chamavam para sua faina em dia de trabalho.
Tuas casas de portas e janelas de talhada cantaria, perduram, guarnecidas com teus tão característicos azulejos e como ainda sobrevivem…
Tinhas também a saudosa capelinha de São Lourenço, onde a nossa Rosa ia com suas filhas visitar a imagem de Santa Luzia, pois perto lhes ficava, em saudosa romagem por que seu marido e filhos, bem longe das águas deste mar que esta terra afaga, lá trabalhavam.
Daqui também começou a crescer este povo da beira-mar, gente que o mar ia abraçar na dura luta de trabalho.
Daqui também começou a nascer as lindas raparigas e rapazes que com a sua alegria e graciosidade, aspergindo por outras terras o encanto que daqui levavam, com o pregão da Varina, cantavam.
Foram vós ó figueiras, árvores de frutos apetecidos, que viram e deram o seu nome à então saudosa Rua das Figueiras, mas hoje, frutos desses já não os tens, apenas as flores que as Rosas de então, em tempos brotaram, hoje se vão desabrochando na actual Rua Dr. José Falcão, flores que desta terra sempre serão.


Valdemar Muge

sábado, 28 de janeiro de 2012

COM O AMOR



Possuir o mavioso amor desejado,
é lançar semente aos corações encontrados
nos dias da vida que por nós passam,
e florescerá o ditoso bálsamo querido.

Na nua terra, ansiosa ao fruto da vida,
o regar com a fresca água nascida,
é a seiva fecunda da essência, que brotará
o hino da Natureza que à luz dará.

E no pulsar dos corações ansiosos
           das almas intranquilas, na paz viver,
           que quantos e tantos quer receber:
            nascerá o amor nos corpos ditosos,
porque este, sempre vencerá o malévolo.           

Vem Amor, no aconchego dos corpos,
refresca-os suave e carinhosamente...
sensíveis, diz-lhes quanto valor tens para a vida,
porque tua essência, sem ela, nada vale...
sem ela, somos vultos de sombras fatais.

Com o aroma das rosas a florescer
envolto na suave essência dos nossos espíritos;
as mãos, nas meigas carícias dos momentos volúveis
e com a fresca água  bebendo nos instantes quentes,
nasceu o amor como criança, fecundo em doces sorrisos.

Com o Amor, sim!
com ele,
bendigo à vida que vim.

           NO SUAVE SUSSURRAR da Natureza,
ouviremos o adágio que ela nos dá
e falaremos com os sentidos recatados,
inspirados como ela os sabe oferecer.

Como crianças, envoltos na pureza espalhada,
deixaremos seguir nas aguas cantando
as pétalas por nós caídas da inocente flor
que o aroma deixou e a saudade levou.

Silenciosos, falar para quê?
- Tudo à volta é silente e vive.
Nossos corações, amor, sentem
o que os olhos vêem e dizer querem.

Silencio este que fala mais que quantas palavras:
Fala das felizes alegrias e das dores acontecidas;
É elo da vida que por nós passa, amor.
Com estas flores do silencio,
as palavras, soltas, foram nas aguas correndo
e ficaram  os ternos sentidos nos corações.

Acariciamos a densidade da Luz do amor
que envolve irradiando os corpos amados,
lúcidos e queridos nos seus desejos...
Ancorados no cais adjacente do amor,
o porto de chegada do destino da vida
proposto para todos de alegrias e dor.

Sejamos os rostos deste silêncio
cativos nos corações do amor,
que um dia recordemos com saudade
no repouso do ardor que ficou.

EM CADA INSTANTE te encontro, amor:
Com os olhos inocentes e ternos,
o coração no doce desejo de dar
e as volúveis mãos no afago de acarinhar,
       o dia, contigo,  tem mais brilho e a noite mais encanto.

Te encontro na inocente criança
que recebe  o afago desejado;
no idoso, o grato carinho que ainda vem,
mas saudoso da mocidade que já não tem
        mas de querer ainda o ser e com todos viver.

És mulher que o Mundo abraça;
és ternura que a todos enlaças.
Contigo, vou nos dias sempre amados
na Esperança que renova os corações abraçados,
       embalados nas queridas inesquecíveis memórias.

Seremos os seguidores do Amor
para que sempre floresça com fervor
em todos os corações:
a doce paz e queridas uniões
        que o mundo tanto precisa e anseia.

Seremos como as meigas crianças
e teremos o inocente e puro amor, doces carícias;
Sejamos como e companheiros da afagada mulher,
porque ela floresce o amor,
do seu regaço sai o amor
        que os corações querem ter.


GRANDEZA MAIOR que esta, não há!
As árvores se abraçam e as flores se beijam;
As águas se deleitam com o Sol acariciando-as
            e aconchegando o canto das aves e o viver dos animais:
     Assim, a Natureza sempre nos ensinará.

Que mais queres amor?
Só nos falta seguir o vento que nos leva
com este abraço que nos cativa.
Não é preciso  fazer mais ruído que o vento
nem mais movimento que as folhas das árvores.
De mãos dadas e com o perfume destas flores,
      suavizaremos para sempre as nossas recordações.

Encontramos então o Amor, abraçamo-lo...
seguiremos o caminho com ele
mesmo que encontremos
alguns tropeços e desassossegos.
Guardemos dentro de nós
e mais tarde desfolharemos as lembranças
      com a saudade, para que se não diluem.

Que importa que digam:
Ignorantes e sonhadores,
fantasia ou simples quimera,
se os sentidos estão nos nossos corações.
Que importa ignorância esta?
se esta faz viver nos sossegos da paz
      e na tranquilidade do Amor.

Somos os seres da suave memória;
os amantes da serenidade;
os cativos desta Natureza que nos abraça.
Ficareis com as vossas razões e ciências,
ficarei com as minhas, – são crer!
Ficareis com as vossas dúvidas
      e eu ficarei com a paz que o Amor deu.

                                                                                 Valdemar Muge