sábado, 18 de março de 2017

A VIAGEM


Na nebulosa da poesia imaginada, naveguei...
nela, segui para onde me quiz levar.
Atravessei mares de ondas suaves e revoltas,
aragens e maresias,
e encontrei saudades e amizades.

Naveguei  universos com estrelas celestiais,
onde existia almas de amor e bondade;
ouvi cânticos e vi açucenas de pureza,
que aconchegam aquela felicidade infinda;
vi paz esperada
de quem a cultivou e sempre a amou.

Viajei por estrelas, quantas que me receberam:
umas, cheias de infinita claridade,
tinham almas com luz luz de felicidade;
mas outras, quantas escuras, sem luz, negras,
que guardavam sentidos de sofrimento,
arrependimentos de maldade.

Vi multidões de peregrinos a caminhar
ao encontro dos horizontes de luz;
e vi quantos para traz a ficarem
sem coragem para chegarem ao destino
que ansiavam encontrar.
Caminhavam à frente, os de mãos limpas,
e espíritos de fé…  
mas a traz, quantos encobertos, disfarçados,
se perdiam no caminho!
               
Para uns, a caminhada se ia suavizando,
seria a gratidão do que sempre acreditaram...
eles ouviam cânticos de louvor;
incensos de pureza se espalhavam,
e suas almas, mais branquiadas ficavam...
mas noutros, os ímpios,
a luz do caminho se ia diluindo,
e o negro caminho se aproximava a seguir...
tropeçam em buracos negros
e caem em escuras estrelas:
ali ficam, à espera que outras lhes surgem...
carregam os frutos germinados do que semearam,
pesados, rastejando, os seus lamentos não são ouvidos...

E na nebulosa, onde viajei, regressei;
os sentidos poéticos que passei, trouxe-os,
como mensagens de paz e amor.

Agora que cheguei, sei que viver não é em vão;
o que aqui será em tudo que se fará,
nos actos que vão, serão
Além a recompensa do que aqui são.

 Valdemar Muge


sábado, 11 de março de 2017

A SAUDADE DELA FIQUEI


Agora me lembro que em cima da mesa ficou,
esquecida, quanta poesia,
que tanto queria comigo vir,
nesta viagem que agora encetei.
                                                     Agora, só dela me resta, com a saudade ficar,
por a não poder o carinho lhe dar...
enquanto eu não regressar,
as palavras deixadas, que voem até vós,
e o eco das vossas vozes se ousam onde eu estiver:
guardai-as!
a todos vós, vos peço que não a abandoneis;
que a trateis com carinho e afeto;
a regueis com os olhos da amizade,
e a afagueis com as mãos da cordialidade.

Que a noite traga o claro dia de alegria e felicidade,
recheada com a poesia que vos deixei.
De vós, das palavras deixadas,
que brilhe o fogo do meu sentir
e se faça luz desta minha escura saudade!

      Do fogo deixado,
se faça chama de amor nos vossos corações
e se espalhe com estes meus sonhos;
Deste meu sangue aspergido nas palavras escritas,
   corra a alegria e a felicidade nas vossas veias;
        na força das vossas mãos,
                                                   nasça as palavras sentidas de quem ama a poesia,
      de quem ama a vida dia-a-dia!
  
                                                    ... e eu, aqui fico com a vossa saudade junto de mim,
                                                                 nesta ausência até não sei quando,
                                                                de todos vós, mas que há de ter fim.


Valdemar Muge