Deixai-me viver o dia que
brilha, em meu coração;
deixai-me
com a força do amor, no meu espírito!
Deixai-me
cantar, amar, viver,
como
quero continuar a assim ser!
Não
me tirem este meu sentir,
destino
este com que vim e, assim quero continuar a ser!
Oh,
são as incompreensões, as maldades,
os
ódios que nos dias que passam,
que
pairam no tempo, que habitam em tantos corações,
que
entristece meu ser,
que
me roubam o meu feliz sentir que me faz viver;
são
os claros dias, que se tornam nevoados, sombrios e tristes,
das
nuvens poluídas dos maléficos tempos,
para
não vos continuar a cantar
o
sentir que sempre desejei e amei!
Deixai-me
viver, deixai-me!
Deixai-me
ter as rosas que desabrocham no jardim,
(
mesmo as singelas, que seja, mas puras!);
o
fruto que a natureza à vida oferece nos límpidos dias,
sem
másculas impregnadas,
para
vos cantar a alegria do viver!
Os
dias onde existem as mortes criminosas e de terror;
as
lutas impiodosas e maldosas;
as
vinganças maléficas, onde paira as mãos sanguentadas,
que
desapareçam de todo o ser!
Que
não mais existam!
Que habite em todos os povos, este querer!
Oh, se assim fosse, como seria belo o viver!
Deixai-me
vir os dias da cristalina água das fontes,
sem
o sangue derramado das desgraças;
o
marejar do mar a acarinhar a meus pés,
sem
as lágrimas dilaceradas!
Deixai-me
respirar o cheiro da terra molhada
do
suor do trabalho,
e
a resina das árvores que ao céu se erguem
em
louvor à natureza!
Deixai
rebentar a videira,
para
beber a alegria de viver
e
cantar todo esse sentir!
Deixai-me
ouvir a música da alegria,
onde
as águas cantam
e
os pássaros acompanham;
onde
a brisa embala a melodia da poesia,
e
a luz dá cor e faz florir o espírito;
onde
nas pedras, pode nascer as singelas flores
e
da terra lavrada, o trigo da vida;
onde
a paz habita e a felicidade resplandece!
Não
quero ver os arbustos impregnados
com
a pungente dor da destruição e maldade,
nos
silêncios que habitam disfarçados,
que
nos cantos da morte
se
escondem nas tristes ruas!...
Mas
quero os límpidos dias da reconciliação
e
as cristalinas estrelas da noite
a
iluminarem os corações humanos!
Dai-me
as vossas mãos,
e
com os sorrisos da alegria
e
as lágrimas enxutas, dancemos
e
cantemos a partilha do amor e da paz entre todos!
Inventemos
a música,
deixemo-la
transparecer dos corações
e
cantemos à vida,
meus
queridos amigos! Cantemos!
Não
posso viver neste tempo triste,
onde
a dor envolve o espírito
e
a beleza é golhetinada pela violência;
onde
a voz é amordaçada pelo cárcere!
Oh
tempo de instintos maléficos,
não
quero beber nessa taça
que
é servida por tantos!
mas
sim, na inocente taça da ternura, do afeto, da amizade!
O
aroma das flores se espalhe pela terra,
e
o brilho das estrelas,
envolva
os corpos renovenescidos!
Que
o incêndio da minha voz,
se
espalhe nos ecos do tempo,
e
só se apague,
com
as águas das fontes da felicidade e do amor!
Do
ventre da vida,
sempre
nasça o fruto da paz, da harmonia!
Se
assim não for, morrerei!
Morrerei
sim!
Morrerei
com a angústia
e
o desespero cravado em meu coração!
Mas
sim, queria morrer com a paz universal,
entre
todos os povos!
Valdemar Muge