sábado, 21 de maio de 2016

DEIXAI-ME NO MEU VIVER

                           
              

Deixai-me viver o dia que brilha, em meu coração;
deixai-me com a força do amor, no meu espírito!
Deixai-me cantar, amar, viver,
como quero continuar a assim ser!
Não me tirem este meu sentir,
destino este com que vim e, assim quero continuar a ser!

Oh, são as incompreensões, as maldades,
os ódios que nos dias que passam,
que pairam no tempo, que habitam em tantos corações,
que entristece meu ser,
que me roubam o meu feliz sentir que me faz viver;
são os claros dias, que se tornam nevoados, sombrios e tristes,
das nuvens poluídas dos maléficos tempos,
para não vos continuar a cantar
o sentir que sempre desejei e amei!

Deixai-me viver, deixai-me!
Deixai-me ter as rosas que desabrocham no jardim,
( mesmo as singelas, que seja, mas puras!);
o fruto que a natureza à vida oferece nos límpidos dias,
sem másculas impregnadas,
para vos cantar a alegria do viver!
Os dias onde existem as mortes criminosas e de terror;
as lutas impiodosas e maldosas;
as vinganças maléficas, onde paira as mãos sanguentadas,
que desapareçam de todo o ser!
Que não mais existam!
 Que habite em todos os povos, este querer!
                                            Oh, se assim fosse, como seria belo o viver!
                                                                                                                                                   
                                          Deixai-me vir os dias da cristalina água das fontes,
sem o sangue derramado das desgraças;
o marejar do mar a acarinhar a meus pés,
sem as lágrimas dilaceradas!
Deixai-me respirar o cheiro da terra molhada
do suor do trabalho,
e a resina das árvores que ao céu se erguem
em louvor à natureza!
Deixai rebentar a videira,
para beber a alegria de viver
e cantar todo esse sentir!
Deixai-me ouvir a música da alegria,
onde as águas cantam
e os pássaros acompanham;
onde a brisa embala a melodia da poesia,
e a luz dá cor e faz florir o espírito;
onde nas pedras, pode nascer as singelas flores
e da terra lavrada,  o trigo da vida;
onde a paz habita e a felicidade resplandece!

Não quero ver os arbustos impregnados
com a pungente dor da destruição e maldade,
nos silêncios que habitam disfarçados,
que nos cantos da morte
se escondem nas tristes ruas!...
Mas quero os límpidos dias da reconciliação
e as cristalinas estrelas da noite
a iluminarem os corações humanos! 
Dai-me as vossas mãos,
e com os sorrisos da alegria
e as lágrimas enxutas, dancemos
e cantemos a partilha do amor e da paz entre todos!
Inventemos a música,
deixemo-la transparecer dos corações
e cantemos à vida,
meus queridos amigos! Cantemos!

Não posso viver neste tempo triste,
onde a dor envolve o espírito
e a beleza é golhetinada pela violência;
onde a voz é amordaçada pelo cárcere!
Oh tempo de instintos maléficos,
não quero beber nessa taça
que é servida por tantos!
mas sim, na inocente taça da ternura, do afeto, da amizade!

O aroma das flores se espalhe pela terra,
e o brilho das estrelas,
envolva os corpos renovenescidos!
Que o incêndio da minha voz,
se espalhe nos ecos do tempo,
e só se apague,
com as águas das fontes da felicidade e do amor!
Do ventre da vida,
sempre nasça o fruto da paz, da harmonia!

Se assim não for, morrerei!
Morrerei sim!
Morrerei com a angústia
e o desespero cravado em meu coração!
Mas sim, queria morrer com a paz universal,
entre todos os povos!  


Valdemar Muge

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