Rosto, que
percorres nos caminhos de lajes
recalcadas pelo tempo da vida:
tuas rugas, são reflexo desse tempo que em ti passou,
que viveu, que fecundou.
No teu rosto, está a saudade da felicidade
e do amor de então, dum tempo nostálgico que passou,
duma essência que mais não volta, mas que tanto amou.
Está a recordação dum sofrimento,
duma angústia gravada nas rugas lapidadas
que o coração sentiu e guardou.
Contemplo teu rosto e teu olhar: vejo-o sem máscara;
vejo a figura modelar nos sulcos das rugas, estampada:
das brisas e das tempestades, das chuvas e do sol,
duma vida dura, exposta á sobrevivência da vida.
Naquele rosto de barba grisalha,
quantas lágrimas retidas, sofridas, permaneceu
sem que alguém as visse e enxugasse pudesse,
mas o calor do sol as secou e as marcas cicatrizou...
É no santuário destes rostos,
que os mistérios da vida se revelam
em quanta luz habitada que procuramos,
porque neles está o espírito e vida, unidos,
mistério este admirável, que encontramos.
Eis o rosto da pessoa que na vida caminha
cruzando-se com os seus irmãos,
distribuindo sorrisos de criança e afetos partilhados,
rasgando e destruindo dos rostos dos homens
atormentados: o mal,
para que o amor, encha por inteiro,
os corações vazios e dilacerados.
Naquele olhar que na rua passa,
está o brilho dum homem de horizonte distante,
duma vida que também sonhou com a felicidade,
com o amor:
recordações guardadas, queridas, jamais esquecidas.
Está o reflexo dum triste coração de falta de carinho,
de uma melancólica vida, sentida de vivência vazia.
Quando seu rosto por mim passa,
e tantos outros por aí habitados,
vejo a figura de um irmão que quer a carícia
confortante,
a esperança de que quer viver o amor e a felicidade,
de que quer ter as lágrimas saciadas
com sorrisos
florescidos e ternura partilhada,
para que este canto sempre se ouça nos corações da
paz.
Valdemar Muge
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