quinta-feira, 22 de novembro de 2012

POEMA FRATERNAL


Recordações, fragmentos da vida passada,
lembranças tantas, do quanto vivemos.

Quantas lembranças, objectos arrecadados moram:
recordações queridas, que no peito ainda afloram.
Eis aquelas fotografias, esquecidas algumas,
recordam momentos da sua serena juventude,
de encanto primaveril.
Nelas, está a imagem da esperança do amor
de mulher, e de ser mãe.
Exalam o ânimo duma nova família;
a vontade de lutar para a vida!

Mas a Luz das recordações,
traz à memória
quanta triste ilusão
que ocorreu na estrada peregrina:
Todos os desejos acabam
e tudo lá ficou...
destino cruel duma vida.

Valdemar Muge

sábado, 10 de novembro de 2012

ARRUELA



Arruela, é um lugar de ramificadas ruas, (em tempos estreitas,)    que se formavam em redor de um largo, onde em comunidade viviam as suas vidas.
É estar num dos lugares do alvorecer do povo Vareiro, que despontava para
as suas labutas.
Seio do nascimento dos corajosos pescadores e das airosas varinas, não menos graciosas que de outros lugares.
Os lavradores desta terra de verdejantes campos de cereal, marcaram também o destaque com a sua vivência.
Lugar de bons artífices do barro e da madeira, nas suas artesanais construções, quanto de bem apreciadas.
Lugar de quantos fornos do quente pão, do cereal que desta terra nascia e dele era saboreado. Das doces broas (de Pão de Ló), que seu cheiro tão desejoso, irradiava por todo o bairro e o calor dos seus fornos aquecia toda a casa, aconchegando desde o mais velho e ao de tenra idade…
Foi sim, berço de trabalho, de cultura e desporto, que esses corajosos vareiros que daqui se espalharam por toda esta terra e por outras bem distantes, enaltecendo o nome de onde nasceram.
Foi, com certeza, no aconchego deste lugar, que o fresco aroma dos seus pinheiros e o exalar perfumado das suas flores, nascia a beleza e a graciosidade feminina que por todos era conhecida e lembrada.
Hoje, ouviremos o chilrear dos pardais, ao recolher do dia, que nos faz lembrar as melodias então cantadas pela mocidade daquele lugar e no silêncio nocturnal eram ouvidas nas serenatas do apaixonado àquela jovem casadoira que estaria por dentro da quadriculada janela.
Lembremos com saudade os encantos que um lugar teve, recordando as vidas que por lá passaram e ficaremos agora com outras não menos queridas, desfrutando a felicidade, seja de qual o lugar, têm direito a viver.

Valdemar Muge 

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

MENINA DO SEMPRE PRESENTE



Menina das espelhadas águas ribeirinhas,
(como também o são quanto minhas)...
do tão branco sal e das espigas douradas:
nasceste nos dias das lágrimas sufocadas,
nos da dura luta pela vida
e do amargo pão de cada dia.

Menina, teus livros são foicinha afiada;
Teus mimos, trabalho que nos braços encerra;
Tua vida, duros sulcos que ficam na terra lavrada:
recordações estas te ficaram desta tua terra.

Pequena pomba que do ninho saíste,
para onde não sei, no vento seguiste.

Tão jovem, as agrestes calçadas corrias,
nova gente, novos caminhos percorrias,
menina triste, como tão cedo as viste!…
Pois a mais no teu lar te quiseram dizer,
(sempre uma filha na família se deve criar,
maravilhoso fruto da vida, esse, se deve amar),
mas parece que isso não quiseram ver!

Menina minha, das terras ribeirinhas,
tuas águas, então, mais salgadas ficaram:
quantas lágrimas deixaste que as tinhas,
um tão jovem coração levas em latejo dorido,
e apenas só um abraço de saudade te deram!

Quantos sonhos, voando, que lá ficaram,
e apenas recordações fraternas contigo vão…
Estrela tua querida que te acompanha,
amiga que te guia e sempre seja boa chama.

Obrigada aos outros servir,
(assim foi a instrução da tua vida),
mas quantas vezes para teu brio não morrer
e a alma, a coragem vencer,
avante tua verdade propagar,
deixavas flutuar tua razão e ao lar voltavas.

A pomba o ninho não esquece,
será sempre seu refúgio maternal.
Ó vida, quanto tens de bem e mal,
mas na alma,
a chama daqueles que seus são,
não arrefece!

Sonhos que no orvalho da manhã se dissipam:                      
tuas brancas águas, como já lá não estavam…
pois quando foste, elas também não ficaram!
Hoje, são escuras, como escuro ficara teu coração,
da saudade daquilo que também era teu... assim, não!
Era a voz do pássaro que à noite chegava
ao ninho dos filhos, a autoridade impor,
fazia ecoar o destino, novo caminho, nova dor,
àquela que é sua e agora no seio albergava,
até quando? Até quando…

Menina das espigas douradas,
com a sacola mais vazia partes,
mais uma lágrima na tua terra deixas
sem lamento ou direito a qualquer queixa.
Assim cresceste, dura vida,
vida que te deram aqueles teus.
Tua mocidade foi salpicada de lágrimas
e quantos desabafos e suplicas vãs.

No coração, sempre fica uma gota de orvalho carinhoso
e uma réstia de chama que dentro de nós propaga.
Quanto valor tem o ser humano que pouco recebe,
mas esse, a alma enobrece
quando dá àquele quanto pode,
que pouco fez, mas que precisa e padece.

Eis a menina do triste passado,
mas de querido sempre presente,
de sonhos e carinhos como tantas outras,
                  que a vida lapidou de espinhos agrestes.
Hoje, és aquilo que não foste...
e foste aquilo que não querias ser.
                                                                                             
 Valdemar Muge