Menina das espelhadas águas ribeirinhas,
(como também o
são quanto minhas)...
do tão branco sal
e das espigas douradas:
nasceste nos
dias das lágrimas sufocadas,
nos da dura luta
pela vida
e do amargo pão
de cada dia.
Menina, teus
livros são foicinha afiada;
Teus mimos,
trabalho que nos braços encerra;
Tua vida, duros
sulcos que ficam na terra lavrada:
recordações
estas te ficaram desta tua terra.
Pequena pomba
que do ninho saíste,
para onde não
sei, no vento seguiste.
Tão jovem, as
agrestes calçadas corrias,
nova gente,
novos caminhos percorrias,
menina triste,
como tão cedo as viste!…
Pois a mais no
teu lar te quiseram dizer,
(sempre uma
filha na família se deve criar,
maravilhoso
fruto da vida, esse, se deve amar),
mas parece que
isso não quiseram ver!
Menina minha, das
terras ribeirinhas,
tuas águas,
então, mais salgadas ficaram:
quantas
lágrimas deixaste que as tinhas,
um tão jovem coração
levas em latejo dorido,
e apenas só um
abraço de saudade te deram!
Quantos sonhos, voando, que lá ficaram,
e apenas recordações
fraternas contigo vão…
Estrela tua querida
que te acompanha,
amiga que te
guia e sempre seja boa chama.
Obrigada aos
outros servir,
(assim foi a
instrução da tua vida),
mas quantas
vezes para teu brio não morrer
e a alma, a
coragem vencer,
avante tua
verdade propagar,
deixavas flutuar
tua razão e ao lar voltavas.
A pomba o
ninho não esquece,
será sempre
seu refúgio maternal.
Ó vida, quanto
tens de bem e mal,
mas na alma,
a chama
daqueles que seus são,
não arrefece!
Sonhos que no
orvalho da manhã se dissipam:
tuas brancas águas,
como já lá não estavam…
pois quando
foste, elas também não ficaram!
Hoje, são
escuras, como escuro ficara teu coração,
da saudade
daquilo que também era teu... assim, não!
Era a voz do
pássaro que à noite chegava
ao ninho dos
filhos, a autoridade impor,
fazia ecoar o
destino, novo caminho, nova dor,
àquela que é
sua e agora no seio albergava,
até quando?
Até quando…
Menina das
espigas douradas,
com a sacola
mais vazia partes,
mais uma
lágrima na tua terra deixas
sem lamento ou
direito a qualquer queixa.
Assim
cresceste, dura vida,
vida que te
deram aqueles teus.
Tua mocidade
foi salpicada de lágrimas
e quantos
desabafos e suplicas vãs.
No coração,
sempre fica uma gota de orvalho carinhoso
e uma réstia
de chama que dentro de nós propaga.
Quanto valor
tem o ser humano que pouco recebe,
mas esse, a
alma enobrece
quando dá
àquele quanto pode,
que pouco fez,
mas que precisa e padece.
Eis a menina
do triste passado,
mas de querido
sempre presente,
de sonhos e
carinhos como tantas outras,
que a vida lapidou de
espinhos agrestes.
Hoje, és
aquilo que não foste...
e foste aquilo
que não querias ser.
Valdemar Muge