sexta-feira, 2 de novembro de 2012

MENINA DO SEMPRE PRESENTE



Menina das espelhadas águas ribeirinhas,
(como também o são quanto minhas)...
do tão branco sal e das espigas douradas:
nasceste nos dias das lágrimas sufocadas,
nos da dura luta pela vida
e do amargo pão de cada dia.

Menina, teus livros são foicinha afiada;
Teus mimos, trabalho que nos braços encerra;
Tua vida, duros sulcos que ficam na terra lavrada:
recordações estas te ficaram desta tua terra.

Pequena pomba que do ninho saíste,
para onde não sei, no vento seguiste.

Tão jovem, as agrestes calçadas corrias,
nova gente, novos caminhos percorrias,
menina triste, como tão cedo as viste!…
Pois a mais no teu lar te quiseram dizer,
(sempre uma filha na família se deve criar,
maravilhoso fruto da vida, esse, se deve amar),
mas parece que isso não quiseram ver!

Menina minha, das terras ribeirinhas,
tuas águas, então, mais salgadas ficaram:
quantas lágrimas deixaste que as tinhas,
um tão jovem coração levas em latejo dorido,
e apenas só um abraço de saudade te deram!

Quantos sonhos, voando, que lá ficaram,
e apenas recordações fraternas contigo vão…
Estrela tua querida que te acompanha,
amiga que te guia e sempre seja boa chama.

Obrigada aos outros servir,
(assim foi a instrução da tua vida),
mas quantas vezes para teu brio não morrer
e a alma, a coragem vencer,
avante tua verdade propagar,
deixavas flutuar tua razão e ao lar voltavas.

A pomba o ninho não esquece,
será sempre seu refúgio maternal.
Ó vida, quanto tens de bem e mal,
mas na alma,
a chama daqueles que seus são,
não arrefece!

Sonhos que no orvalho da manhã se dissipam:                      
tuas brancas águas, como já lá não estavam…
pois quando foste, elas também não ficaram!
Hoje, são escuras, como escuro ficara teu coração,
da saudade daquilo que também era teu... assim, não!
Era a voz do pássaro que à noite chegava
ao ninho dos filhos, a autoridade impor,
fazia ecoar o destino, novo caminho, nova dor,
àquela que é sua e agora no seio albergava,
até quando? Até quando…

Menina das espigas douradas,
com a sacola mais vazia partes,
mais uma lágrima na tua terra deixas
sem lamento ou direito a qualquer queixa.
Assim cresceste, dura vida,
vida que te deram aqueles teus.
Tua mocidade foi salpicada de lágrimas
e quantos desabafos e suplicas vãs.

No coração, sempre fica uma gota de orvalho carinhoso
e uma réstia de chama que dentro de nós propaga.
Quanto valor tem o ser humano que pouco recebe,
mas esse, a alma enobrece
quando dá àquele quanto pode,
que pouco fez, mas que precisa e padece.

Eis a menina do triste passado,
mas de querido sempre presente,
de sonhos e carinhos como tantas outras,
                  que a vida lapidou de espinhos agrestes.
Hoje, és aquilo que não foste...
e foste aquilo que não querias ser.
                                                                                             
 Valdemar Muge

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