Do alto da tua estrada, seu início, me indicavas meu
destino.
Daqui, na então tua fresca sombra, me levavas até
ao mar. Teu arvoredo me abraçava, levando-me ao branco areal que se estende
debruçado nas tuas salgadas águas.
Daqui, recebias os teus pescadores
vindos dos Bairros que te afluíam:
Vinham do Lamarão, dispostos a
enfrentar a força do seu mar;
Da Arruela, origem de tantos valentes
destas águas vareiras.
Da Ribeira, da Marinha, dos Campos e de tantos
outros lugares, vinham os lavradores com seus bois, para as redes puxar na praia, na faina do pescado, ansiosos de boa pesca.
Eras tu, estrada para o mar, que
abraçavas toda esta gente que ainda antes do alvorecer, caminhava ao encontro do mar.
Do teu alto, inicio da estrada e percurso destes valorosos, caminhavam até que seu mar os avistasse e
suas vozes com o habitual entusiasmo, se ouviam: “Pró-mar! Pró-mar!”
Serias então o tronco resinoso
que em ti percorriam, daqueles que te afluíam, das gentes dos Bairros que te
circundavam, o diário encontro para aquela dura vida, dum povo que nasceu e
cresceu à beira-mar, que na suas roucas vozes ecoava o som do bramar das suas águas
e a fragrância da maresia marinha que na tua estrada sempre entoavam: “Pró-mar!
Pró-mar!”
Hoje, já assim não acontece. O
eco dos teus pescadores já não se ouve,
apenas viaturas apressadas,
quantas vezes sem se lembrarem daquele mar lá em frente. A fresca sombra por onde a aragem do teu mar
deslizava, já longe vai... mas ficou o sabor do teu salgado mar, que pela estrada te vem.
Hoje, és mais moderna e turística, obra que os homens te fizeram.
Hoje, és mais moderna e turística, obra que os homens te fizeram.
Já não és a então Estrada
Pró-Mar, porque aqueles que recebias, já de ti se despediram... e, no teu mar,
poucos o abraçam e o enfrentam na lida da pesca.
Já não és a estrada dos velhos
pescadores desta terra, fica com a saudade daquilo que foste, que eu fico com a
recordação dentro do meu coração.
Enfim, hoje és irmã adoptiva, que
te deram, o nome da terra para onde teus filhos foram: Régua, amiga.
Valdemar
Muge
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