quarta-feira, 11 de julho de 2012

ESTRADA PRÓ-MAR



Do alto da tua estrada, seu início, me indicavas meu destino.
Daqui, na então tua fresca sombra, me levavas até ao mar. Teu arvoredo me abraçava, levando-me ao branco areal que se estende debruçado nas tuas salgadas águas.
Daqui, recebias os teus pescadores vindos dos Bairros que te afluíam:
Vinham do Lamarão, dispostos a enfrentar a força do seu mar;
 Da Arruela, origem de tantos valentes destas águas vareiras.
 Da Ribeira, da Marinha, dos Campos e de tantos outros lugares, vinham os lavradores com seus bois, para as redes puxar na praia, na faina do pescado, ansiosos de boa pesca.  
Eras tu, estrada para o mar, que abraçavas toda esta gente que ainda antes do alvorecer, caminhava ao encontro do mar.
Do teu alto, inicio da estrada e percurso destes valorosos, caminhavam até que seu mar os avistasse e suas vozes com o habitual entusiasmo, se ouviam: “Pró-mar! Pró-mar!”
Serias então o tronco resinoso que em ti percorriam, daqueles que te afluíam, das gentes dos Bairros que te circundavam, o diário encontro para aquela dura vida, dum povo que nasceu e cresceu à beira-mar, que na suas roucas vozes ecoava o som do bramar das suas águas e a fragrância da maresia marinha que na tua estrada sempre entoavam: “Pró-mar! Pró-mar!”
Hoje, já assim não acontece. O eco dos teus pescadores já não se ouve,
apenas viaturas apressadas, quantas vezes sem se lembrarem daquele mar lá em frente.                   A fresca sombra por onde a aragem do teu mar deslizava, já longe vai... mas ficou o sabor do teu salgado mar, que pela estrada te vem.
Hoje, és mais moderna e turística, obra que os homens te fizeram.
Já não és a então Estrada Pró-Mar, porque aqueles que recebias, já de ti se despediram... e, no teu mar, poucos o abraçam e o enfrentam na lida da pesca.
Já não és a estrada dos velhos pescadores desta terra, fica com a saudade daquilo que foste, que eu fico com a recordação dentro do meu coração.
Enfim, hoje és irmã adoptiva, que te deram, o nome da terra para onde teus filhos foram: Régua, amiga.


Valdemar Muge

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