quarta-feira, 11 de julho de 2012

RUA DAS FIGUEIRAS



O mês de Agosto decai sonolento com o calor do verão.
A sombra apetecida, formada pelos noviços ramos das árvores, fazia aconchegar a Rosa, colhendo alguns dos apetitosos frutos da sua figueira, para convívio com suas duas filhas, porque sabia como deles, elas gostavam.
Poucas casas eram da rua da Rosa, que não tinham a sua figueira e todos primavam para ter a de melhor qualidade.
Será a razão por aquela rua, das mais antigas daquela povoação,      se chamar das Figueiras? Talvez.
Rua Direita das Figueiras, que nasce a norte de Ovar, abraça quantas e aconchega sua gente que a acarinha e lhe quer.
Repousa enfim, ajoelhada ao cruzeiro que a seus pés se ergue em fraternal afecto.
Era por ti que entravam quando vinham do norte, os primeiros povos para tuas terras cultivar;
Por ti, chegavam os titulares, senhores de terras que as iam recebendo por feitos ou benefícios prestados;
Por ti desciam e subiam os velhos pescadores, quando ao som da buzina, do alto do calhau, a ouviam… para pró-mar os chamavam para sua faina em dia de trabalho.
Tuas casas de portas e janelas de talhada cantaria, perduram, guarnecidas com teus tão característicos azulejos e como ainda sobrevivem…
Tinhas também a saudosa capelinha de São Lourenço, onde a nossa Rosa ia com suas filhas visitar a imagem de Santa Luzia, pois perto lhes ficava, em saudosa romagem por que seu marido e filhos, bem longe das águas deste mar que esta terra afaga, lá trabalhavam.
Daqui também começou a crescer este povo da beira-mar, gente que o mar ia abraçar na dura luta de trabalho.
Daqui também começou a nascer as lindas raparigas e rapazes que com a sua alegria e graciosidade, aspergindo por outras terras o encanto que daqui levavam, com o pregão da Varina, cantavam.
Foram vós ó figueiras, árvores de frutos apetecidos, que viram e deram o seu nome à então saudosa Rua das Figueiras, mas hoje, frutos desses já não os tens, apenas as flores que as Rosas de então, em tempos brotaram, hoje se vão desabrochando na actual Rua Dr. José Falcão, flores que desta terra sempre serão.


Valdemar Muge

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